Dizia eu no post anterior
que “queria estar no lugar da Leonor” e isso não tardou muito a acontecer. Só
agora me “apetece” falar do assunto…
O dia 4 de Outubro de
2016 ficará sempre marcado como o inicio do resto da minha vida…
Estava muito divertida a
almoçar com uma amiga e colega de trabalho, falando dos meus planos de viagem
para o dia seguinte e para o ano de 2017, quando senti uma dor lancinante na
têmpora esquerda que se propagou para a cabeça e que durou algum tempo que não
sei quantificar... Era uma dor muito intensa, uma dor que nunca havia sentido…
Quando ela abrandou, fomos até ao Continente fazer umas compras e aí comecei a
ficar com a visão turva do lado esquerdo e a sentir desequilíbrios e náuseas.
Foi com muita dificuldade que cheguei ao escritório e só aí pude constatar a
palidez da minha cara. Sentei-me à secretária, mal conseguia falar, ainda fui à
net tentar perceber o que se estava a passar, mas depois de vomitar, de muitas
insistências em me levar ao hospital e falar com a Paula a pedir conselho, lá
me decidi ir ao hospital, acompanhada da minha filha Inês, a quem pedi para vir
ter comigo. Ainda passei na CUF do Pq Nações, onde entrei pelo meu pé, mas como
me pediram uma caução, desisti e fui para o hospital de Loures. A viagem foi
surreal, porque além da Inês ter carta há pouco tempo, também não conhecia o
caminho, mas lá chegámos.
Às 16,30h estava a tirar
a senha, o que quer dizer que já tinham passado 3h desde o episodio da dor de
cabeça. Fui chamada quase de imediato para a triagem e quando explicava o que
tinha acontecido ao enfermeiro, ele liga para alguém e dá o meu nome… Estranho…
Não demorou muito que me
chamassem para a consulta, onde voltei a explicar o que havia sucedido. Quando
a medica me examinou, perguntou de imediato qual era a cor da caneta que tinha
na mão. Só me apeteceu chamar-lhe nomes; então não se via logo que era
vermelha??? Mandou-me fazer exames e chamou um auxiliar para me por em cadeira
de rodas… What??? Mas lá fui, de salto agulha e malinha no colo, a passar por
quem estava à espera e que deve ter pensado que eu estaria a fazer ronha… Só
após o resultado do TAC à cabeça percebi que tinha acontecido algo de muito
grave… Nesta altura já a Paula, o Carlos, o Ricardo e Catarina tinham chegado
ao hospital para se juntarem à Inês e à Belinha que, entretanto, também tinha
vindo. Aliás a Paula já sabia de tudo o que se tinha passado, já sabia do
resultado do TAC e já sabia o que ia acontecer a seguir. Lembram-se do
telefonema do enfermeiro? Pois…
Assim, fiquei a saber que
tinha sofrido um AVC hemorrágico, ligeiro. Sim, ligeiro, porque a maior parte
das vezes este tipo de AVC causa morte imediata…Tive sorte, tive mesmo muita
sorte!
Este dia foi uma estreia
em muita coisa… Em susto, em ir parar às urgências de um hospital, em andar de
cadeira de rodas e em ir de ambulância: depois do resultado do TAC ainda fui
vista por um neurocirurgião de Santa Maria e para lá chegar fui de… Ambulância…
Foi muito mau e nem levava as sirenes ligadas… O que me valeu foi o enfermeiro
que foi comigo (o mesmo que me fez a triagem), que tentava distrair-me conversando
o tempo todo. Era propositado para ver se respondia correctamente. Não foi
preciso operar, mas estive sete dias internada e, claro, a viagem planeada para
5 de Outubro, foi às ortigas… Mas não ficaram sequelas físicas visíveis.
Os primeiros tempos foram
complicados, com dores de cabeça, tonturas e desequilíbrios. Deixei de
conseguir dormir, tive um pico de tensão que me obrigou a ir de novo às
urgências, passei a tomar ansiolítico para andar mais calma. Deixei também de
ler e escrever que eram coisas de que gostava muito (daí a minha ausência no
blog).
Suspeita-se que o AVC
tenha tido origem no stress que vivi em 2016, não só a nível familiar, mas
sobretudo devido à situação profissional (faço parte da peste grisalha)… Essa
situação resolvi, pedindo para sair de onde estava e sinto-me melhor…
Hoje, passados 5 meses,
já consigo ler e ter gosto em escrever, mas a minha cabeça nunca mais foi a
mesma… Quero viver o dia a dia sem me preocupar muito (o que não é fácil) e sem
fazer grandes planos…