quinta-feira, 9 de março de 2017

Quando a vida nos prega partidas…

Dizia eu no post anterior que “queria estar no lugar da Leonor” e isso não tardou muito a acontecer. Só agora me “apetece” falar do assunto…
O dia 4 de Outubro de 2016 ficará sempre marcado como o inicio do resto da minha vida…
Estava muito divertida a almoçar com uma amiga e colega de trabalho, falando dos meus planos de viagem para o dia seguinte e para o ano de 2017, quando senti uma dor lancinante na têmpora esquerda que se propagou para a cabeça e que durou algum tempo que não sei quantificar... Era uma dor muito intensa, uma dor que nunca havia sentido… Quando ela abrandou, fomos até ao Continente fazer umas compras e aí comecei a ficar com a visão turva do lado esquerdo e a sentir desequilíbrios e náuseas. Foi com muita dificuldade que cheguei ao escritório e só aí pude constatar a palidez da minha cara. Sentei-me à secretária, mal conseguia falar, ainda fui à net tentar perceber o que se estava a passar, mas depois de vomitar, de muitas insistências em me levar ao hospital e falar com a Paula a pedir conselho, lá me decidi ir ao hospital, acompanhada da minha filha Inês, a quem pedi para vir ter comigo. Ainda passei na CUF do Pq Nações, onde entrei pelo meu pé, mas como me pediram uma caução, desisti e fui para o hospital de Loures. A viagem foi surreal, porque além da Inês ter carta há pouco tempo, também não conhecia o caminho, mas lá chegámos.
Às 16,30h estava a tirar a senha, o que quer dizer que já tinham passado 3h desde o episodio da dor de cabeça. Fui chamada quase de imediato para a triagem e quando explicava o que tinha acontecido ao enfermeiro, ele liga para alguém e dá o meu nome… Estranho…
Não demorou muito que me chamassem para a consulta, onde voltei a explicar o que havia sucedido. Quando a medica me examinou, perguntou de imediato qual era a cor da caneta que tinha na mão. Só me apeteceu chamar-lhe nomes; então não se via logo que era vermelha??? Mandou-me fazer exames e chamou um auxiliar para me por em cadeira de rodas… What??? Mas lá fui, de salto agulha e malinha no colo, a passar por quem estava à espera e que deve ter pensado que eu estaria a fazer ronha… Só após o resultado do TAC à cabeça percebi que tinha acontecido algo de muito grave… Nesta altura já a Paula, o Carlos, o Ricardo e Catarina tinham chegado ao hospital para se juntarem à Inês e à Belinha que, entretanto, também tinha vindo. Aliás a Paula já sabia de tudo o que se tinha passado, já sabia do resultado do TAC e já sabia o que ia acontecer a seguir. Lembram-se do telefonema do enfermeiro? Pois…
Assim, fiquei a saber que tinha sofrido um AVC hemorrágico, ligeiro. Sim, ligeiro, porque a maior parte das vezes este tipo de AVC causa morte imediata…Tive sorte, tive mesmo muita sorte!
Este dia foi uma estreia em muita coisa… Em susto, em ir parar às urgências de um hospital, em andar de cadeira de rodas e em ir de ambulância: depois do resultado do TAC ainda fui vista por um neurocirurgião de Santa Maria e para lá chegar fui de… Ambulância… Foi muito mau e nem levava as sirenes ligadas… O que me valeu foi o enfermeiro que foi comigo (o mesmo que me fez a triagem), que tentava distrair-me conversando o tempo todo. Era propositado para ver se respondia correctamente. Não foi preciso operar, mas estive sete dias internada e, claro, a viagem planeada para 5 de Outubro, foi às ortigas… Mas não ficaram sequelas físicas visíveis.
Os primeiros tempos foram complicados, com dores de cabeça, tonturas e desequilíbrios. Deixei de conseguir dormir, tive um pico de tensão que me obrigou a ir de novo às urgências, passei a tomar ansiolítico para andar mais calma. Deixei também de ler e escrever que eram coisas de que gostava muito (daí a minha ausência no blog).
Suspeita-se que o AVC tenha tido origem no stress que vivi em 2016, não só a nível familiar, mas sobretudo devido à situação profissional (faço parte da peste grisalha)… Essa situação resolvi, pedindo para sair de onde estava e sinto-me melhor…

Hoje, passados 5 meses, já consigo ler e ter gosto em escrever, mas a minha cabeça nunca mais foi a mesma… Quero viver o dia a dia sem me preocupar muito (o que não é fácil) e sem fazer grandes planos…